
Nome Juliana Alcantara
Idade 37
Instituição Universidade de Coimbra
Área de investigação Género, Jornalismo, Comunicação, Saúde e Crise
Como começou o teu percurso como investigadora? Algum acontecimento ou evento particular suscitou o teu interesse pela área da investigação que atualmente desenvolves?
Incontestavelmente a crise de saúde pública decorrente da pandemia de coronavírus afetou a vida das pessoas em diferentes medidas e contextos. E no meu caso também não foi diferente. Em março de 2020, quando entrámos no primeiro confinamento em Portugal, eu estava envolvida no meu projeto de tese para o concurso da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT). A área que conjuga a saúde e o jornalismo já tinha sido explorada por mim durante o mestrado e a minha vontade era a de continuar a enveredar por esses temas. Com o surto da covid-19, tudo mudou. O que eu tinha em mente, mesmo que estivesse em processo de amadurecimento, mudou. Eu não cheguei a adaptar as estratégias que tinha traçado, pelo contrário, eu tive que as abandonar e começar “do zero”. Em um mês escrevi e desenvolvi o projeto de qualificação da tese de doutoramento a que atualmente me dedico, e que trata de investigar as práticas jornalísticas em contexto de crise, nomeadamente a pandémica, sob as lentes de género.
Podes apresentar-nos um pouco da tua produção científica enquanto investigadora?
É claro que isso só foi possível como uma orientação dedicada da Professora Rita Basílio, que me guiou nas decisões, lançou as perguntas certeiras me fazendo pensar melhor e mais criticamente, respeitou o meu tempo intelectual para maturar as respostas, teve a paciência e a dedicação de rever as inúmeras versões do projeto e continuar num trabalho incansável e atento em me orientar durante esses anos.
Eu sou inquieta, curiosa e gosto de trabalhar em conjunto. Acredito que as pessoas com diferentes backgrounds e que tenham como foco áreas de investigação complementares à minha somam muito, tanto na argumentação crítica quanto nos modos de trabalhar. Por isso, esses encontros deram frutos em publicações em coautoria e em projetos que serão lançados em parceria.
Tens sido especialmente influenciada por algum/a autor/a e/ou tradição teórica?
Desde a dissertação de mestrado tenho sido influenciada pelo pensamento de Michel Foucault. Lembro-me de uma aula durante o mestrado em que a Professora Isabel Ferin me disse que se eu queria estudar sobre “poder”, eu deveria ler Foucault. Essa dica me trouxe uma inquietação, que me levou e ainda me leva a eventos que têm o autor como tema. E, como é óbvio, continuo a ler Foucault pois não é fácil dar conta de todo o arcabouço teórico.
Além disso, durante o percurso da tese de doutoramento conheci melhor o trabalho de Pamela Shoemaker e Stephen Reese, teóricos contemporâneos da comunicação. A estratégica teórico-metodológica da minha tese tem como âncora a teoria que os dois desenvolveram, a hierarquia das influências.
Qual foi o ponto de partida para o projeto de doutoramento que desenvolves? Fala-nos um pouco sobre ele.
Acabei por responder na pergunta anterior.
Quais os principais desafios que encontraste no doutoramento e/ou no percurso enquanto investigadora?
Eu vejo o caminho académico para todas as pessoas como um desafio no sentido de trabalhar a sua humildade e o seu autoconhecimento, sem prejuízo de manter a autoestima e o empoderamento. Muito se fala na síndrome da impostora, na depressão e nas relações corporativistas no meio académico, mas muito pouco se fala em como superar e reverter essas situações. Por isso, e refletindo sobre situações vividas por outras pessoas, assim que eu iniciei o doutoramento eu decidi cuidar da minha saúde mental e da física como prioridades de vida.
Que estratégias adotaste para responder a tais desafios?
Além do cuidado comigo mesma, posso salientar a teorização feminista que vem não só influenciando o meu trabalho, mas também a forma de olhar a vida e vivê-la. Aqui devo um especial agradecimento a Professora Maria João Silveirinha, que fez acender alguns desassossegos em relação à sociedade em que vivemos e, mais concretamente, relacionada com as práticas jornalísticas. O olhar de gênero me faz refletir constantemente sobre a teoria e a prática, e influencia sobremaneira as minhas decisões e meus modos de ser e de estar.
Durante a frequência do doutoramento, algum aspecto te surpreendeu positivamente? E negativamente?
O meu primeiro ano de doutoramento, o ano curricular, foi surpreendente em vários sentidos porque ninguém imaginava que o confinamento iria impor tantos desafios. Cada um recebeu e os encarou de maneira muito particular, alterando as formas de pensar e de viver a rotina. Não foi um processo linear, cada pessoa percebeu sua dinâmica de vida de uma maneira. Esse foi um dos desafios: compreender como cada pessoa percebeu e respondeu aos riscos em diferentes dimensões e durante as diferentes etapas da pandemia.
Atualmente, dedicas-te exclusivamente à investigação?
Atualmente trabalho em regime de exclusividade por conta da bolsa de doutoramento financiada pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT).
Como é que organizas o teu dia a dia de trabalho com a vida quotidiana?
Dedico-me diariamente a horas de trabalho estipuladas previamente de acordo com os prazos e com as metas que tenho a cumprir. Caso tenha demandas extras, reorganizo a minha agenda. Mesmo sendo a investigação um trabalho exigente, gosto da flexibilidade que tenho em desenvolver a pesquisa. A minha mente não trabalha no regime 9h-17h e sinto-me confortável em ajustar e conciliar responsabilidades.
Imaginas o teu futuro ligado à investigação ou gostavas de conhecer outras áreas e enveredar por outros caminhos?
Por já ter trabalhado por mais de 13 anos nas áreas de jornalismo, comunicação empresarial e assessoria de imprensa no Brasil, posso dizer com clareza que a minha carreira alcançou outra fase a partir da decisão de fazer o mestrado na Universidade de Coimbra. Agora, em fase de desenvolvimento da tese de doutoramento o que vislumbro é a carreira de docente e de investigadora.
Por que motivo participas no GT de Jovens Investigadores da Sopcom e o que mais gostas neste GT?
O GT de Jovens Investigadores foi apresentado primeiramente pela minha orientadora Professora Rita Basílio, que me incentivou a fazer parte de uma rede que tivesse, assim como eu, estudantes ansiosas em produzir conhecimento. Somado a isso, algumas colegas que já participavam do grupo de trabalho me indicaram que esse poderia ser um bom caminho para conhecer pessoas além da nossa universidade. E é justamente isso que tem acontecido, e que espero que aconteça com mais frequência: o GT de Jovens Investigadores promover eventos e encontros que nos ponham em contacto com pessoas que também desenvolvem pesquisa na nossa área e que boas e duradouras parcerias nasçam.