
Nome Fábio Anunciação
Idade 25
Instituição Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas (ISCSP-ULisboa)
Área de investigação Crianças e Jovens, Cultura Digital, Competências digitais
Como começou o teu percurso como investigador? Algum acontecimento ou evento particular suscitou o teu interesse pela área da investigação que atualmente desenvolves?
Iniciou ainda aquando da licenciatura. Ou melhor: o interesse pela investigação surgiu nessa altura. Pelo menos, é aí que o situo. Isto porque no último ano da licenciatura somos convidados a desenvolver um projecto de investigação, desde o seu desenho à sua concretização. À época, a Professora Carla Cruz foi quem orientou o trabalho que foi desenvolvido, de maneira que, desde essa altura, temos vindo a trabalhar em conjunto. E foi sobretudo por via desse acompanhamento, num registo de plena proximidade e disponibilidade, que fui iniciado e familiarizado com as lides próprias do ofício. De forma mais ampla, se quisermos, e é algo que consta de um ensaio muito curto de Mark Van Doren ao qual recorro com relativa frequência, The Joy of Being Serious, julgo que a Universidade não foi omissa na tarefa de, pelo menos no meu caso, patrocinar um processo de descoberta de interesses para lá daquilo que previamente me interessava. Ao mesmo tempo, a frequência universitária permite uma descoberta de nós mesmos, por via da multiplicação de experiências de vária natureza, que providencia ao aluno a hipótese de reconhecer as suas valências e limitações. Quanto a mim, diria que isso se traduziu sobretudo num gosto pela e numa inclinação para a investigação, os quais procuro, amiúde, cultivar.
Podes apresentar-nos um pouco da tua produção científica enquanto investigador?
A minha produção científica é ainda muito recente, breve. Reveste-se mais de comunicações apresentadas em congressos do que propriamente em publicações em journals. Neste processo que se inicia, co-autorei, em 2020, o artigo “A domesticação de ecrãs na infância: usos e mediação parental em meios citadino e rural”, publicado na revista Comunicação e Sociedade. A par deste, também um capítulo no livro “As Gerações dos Ecrãs: Práticas e experiências relacionadas com o online”, do UNIDCOM/IADE, o qual é o resultado do trabalho de investigação realizado no último ano da licenciatura em Ciências da Comunicação, no ISCSP. Os restantes estão, ou no prelo, ou em fase de revisão, e são um contributo ampliado das comunicações que tenho vindo a realizar. No âmbito do projecto EUPRERA: Women in PR, em que participo enquanto membro da equipa portuguesa, estamos já a ultimar o relatório. É projeto em rede, com vários países europeus, que permitirá comparações detalhadas entre países, bem como da representação da situação das mulheres nas Relações Públicas na Europa.
Tens sido especialmente influenciado por algum/a autor/a e/ou tradição teórica?
O trabalho que tenho desenvolvido tem sido atravessado por vários autores. De entre os vários passíveis de referência, e antecipadamente certo de que faltará um ou outro nome, destacaria Sonia Livingstone, Jean M. Twenge, Roger Silverstone, Peter Nikken, Mark Deuze, Cristina Ponte, Ana Jorge e Teresa Sofia Castro. Em projectos mais recentes, designadamente no âmbito da dissertação de mestrado, referenciaria Massimo Ragnedda, Jane Seale, Ida Cortoni, Susana Henriques e Pedro Abrantes.
Qual foi o ponto de partida para o projeto de mestrado que desenvolves? Fala-nos um pouco sobre ele.
O projecto parte sobretudo de uma experiência concreta, de contacto directo com escolas das redes pública e privada, durante os dois anos em que integrei o projecto QWERTY da Associação Causas XXI. Curiosamente, esse contacto coincidiu com a prorrogação do estado de emergência, em janeiro de 2021, e que impôs, novamente, a suspensão das atividades letivas presenciais. Com as escolas fechadas, o ambiente educativo tradicional migrou para o online, num registo de ensino remoto de emergência, que se queria a transitar para uma educação digital em rede. Mas, no fundo, a pandemia não revelou, antes confirmou algumas das fragilidades já identificadas do sistema educativo, as quais também fui diagnosticando durante esse período, desde a escassez e obsolescimento dos equipamentos informáticos nas escolas, à falta de professores com formação para utilizar os meios digitais. Aquilo que, para já, se propõe é uma análise do capital digital dos professores dos ensinos básico e secundário das escolas TEIP (Territórios Educativos de Intervenção Prioritária), no concelho de Lisboa, no período pós-pandémico. O objectivo é que, a partir dessa análise, se consiga, subsequentemente, intervir de forma mais esclarecida e focada em cada um dos contextos educativos, considerando programas para a aquisição de equipamentos para a escolas e robustecer a formação de professores no que respeita à utilização das Tecnologias Digitais de Informação e Comunicação como o que, por exemplo, está integrado no Plano de Ação para a Transição Digital, aprovado em Abril de 2020.
Quais os principais desafios que encontraste no mestrado e/ou no percurso enquanto investigador? Que estratégias adotaste para responder a tais desafios?
No caso, o grande desafio que se impôs foi o de saber quando regressaria ao mestrado, já que, por circunstâncias várias, me vi forçado a anular a inscrição. Mas sempre na promessa de regressar para concluí-lo com o nível de rigor a que me autoimpus. Tornei ao mestrado este ano lectivo. Mas, durante o período de ausência, não deixei de escrever, de marcar presença em congressos para comunicar alguns dos trabalhos desenvolvidos nessa época. E isso, de certa maneira, deu-me algum alento adicional para continuar, estruturar ideias e, enfim, preparar antecipadamente aquilo que viria a ter pela frente, logo que regressasse.
Atualmente, dedicas-te exclusivamente à investigação?
Sim. Neste momento, sim, enquanto Assistente de Investigação no Instituto para as Políticas Públicas e Sociais (IPPS-Iscte).
Como é que organizas o teu dia a dia de trabalho com a vida quotidiana?
Uma vez que as atenções estão divididas entre a dedicação ao IPPS e ao curso de Mestrado, os dias de semana são integralmente dedicados a um e outro trabalhos. Procuro definir uma rotina muito clara, talvez até um pouco rígida, que acaba por se prolongar para lá de um horário de trabalho dito “normal”. Muito embora siga esta regra monasticamente, na intenção de evitar possíveis “desvios”, tendo a não trabalhar num dos dias do fim-de-semana, pelo menos.
Imaginas o teu futuro ligado à investigação ou gostavas de conhecer outras áreas e enveredar por outros caminhos?
Gostaria que o meu futuro estivesse ligado à academia, fosse pela docência, fosse pela investigação. Idealmente, uma síntese entre ciência e ação pedagógica. Estou plenamente empenhado nessa tarefa.
Por que motivo participas no GT de Jovens Investigadores da Sopcom e o que mais gostas neste grupo? (Se te sentires confortável, pedia-te que respondesses também em vídeo a esta questão)
Logo que me associei à Sopcom, não hesitei em seleccionar o GT de Jovens Investigadores como um dos três grupos dos quais queria fazer parte. Não apenas pelo seu dinamismo, mas – e sobretudo – por promover espaços de diálogo, em que é possível a partilha de anseios, dúvidas, e que geralmente são transversais a quem está no início da carreira e procura trilhar um caminho no sentido de a estabelecer.