
Nome Marina Polo
Idade 36
Instituição CECS | CIPsi – Universidade do Minho
Área de investigação Economia Política da Comunicação; Comunicação de Ciência
Como começou o teu percurso como investigadora?
É difícil definir um marco inicial, acredito que o percurso começa com o interesse genuíno por um determinado assunto mas torna-se possível conforme as oportunidades de trabalho na área. No meu caso, o assunto de interesse perpassa as relações entre tecnologia, cultura e sociedade. Defendi, em 2009, na licenciatura, o trabalho intitulado “As novas tecnologias na fruição do produto cultural”, no qual tratei a mediação dos produtos culturais diante das invenções tecnológicas da humanidade. Depois, formei-me em design gráfico e trabalhei por vários anos fora da academia, como assistente editorial, designer e produtora cultural. Somente em 2016, após concluir o mestrado, pude me dedicar exclusivamente à investigação com o apoio da bolsa de investigação doutoral da FCT. No decorrer deste percurso, foi fundamental encontrar pelo caminho pessoas que me estimularam a buscar respostas científicas para as questões que tinha.
Algum acontecimento ou evento particular suscitou o teu interesse pela área da investigação que atualmente desenvolves?
Não há um evento específico mas um conjunto de observações que partem de um tempo específico. As primeiras décadas dos anos 2000, quando entrei na licenciatura, foram marcadas pelo entusiasmo com as novas tecnologias de comunicação e informação. Nesta época tive acesso a textos que me despertaram o interesse pelo assunto. De lá para cá houve mudanças que me levaram a questionar a perspectiva determinista das tecnologias em relação aos processos sociais implicados.
Podes apresentar-nos um pouco da tua produção científica enquanto investigadora?
Reflete a produção de uma jovem investigadora. Publiquei um recorte dos resultados da tese doutoral no artigo “Políticas de
regulação para internet: uma crítica ao debate sobre a neutralidade da rede”, na Revista Eptic, especializada em Economia Política da Informação, da Comunicação e da Cultura. Nele, atualizei o enquadramento teórico da investigação doutoral.
Em colaboração com a Profª Helena Martins, líder do Telas – Laboratório de Pesquisa em Economia, Tecnologia e Políticas da Comunicação, do qual participo, há duas publicações como co-autora: Por uma comunicação contra-hegemônica: uma proposição desde Paulo Freire, César Bolaño e Álvaro Vieira Pinto, publicado na Chasqui – Revista Latinoamericana de Comunicación e Pela disputa do caráter público da comunicação: práticas e horizontes estratégicos, no ebook “Comunicação e resistência: práticas de liberdade para a cidadania”.
Entre 2021 e 2022 participei do grupo de estudos da Cátedra Óscar Sala, do Instituto de Estudos Avançados da USP, oportunidade em que desenvolvi reflexões sobre a conformidade das possibilidades tecnológicas nos limites dos interesses da acumulação capitalista. Apresento as reflexões aqui e no ensaio intitulado “A retomada da consciência crítica diante das invenções tecnológicas da humanidade”. O texto foi posteriormente desenvolvido e está em revisão para a publicação.
Podem acompanhar a produção no ResearchGate e no Orcid.
Qual foi o ponto de partida para o projeto de doutoramento que desenvolveste? Fala-nos um pouco sobre ele.
A tese doutoral, que defendi em maio de 2021, teve como ponto de partida a observação do aprofundamento das desigualdades com o uso das tecnologias, com especial foco na Internet. No trabalho “Ideologia, discurso e Internet: uma análise dos discursos parlamentares sobre a neutralidade da rede, em Portugal e no Brasil (2006-2019)”, sob a orientação da Profª. Helena Sousa, analisei um tema que está inserido nas políticas de regulação da Internet. A análise foi feita pelas lentes da economia política da comunicação e da análise crítica do discurso. Os resultados possibilitaram constatar que, ao falar e escrever sobre a neutralidade da rede, os parlamentares recorreram a estratégias de operacionalização da ideologia que servem à manutenção da lógica estritamente comercial da Internet. Também apontaram para a necessidade da integração da neutralidade da rede nos debates sobre a reapropriação das infraestruturas comunicacionais.
Tens sido especialmente influenciada por algum/a autor/a e/ou tradição teórica?
Sim, pela perspectiva teórica crítica das ciências sociais e da compreensão dialética das questões da comunicação. Mais especificamente pela Economia Política da Comunicação. Busco resgatar as formulações sobre hegemonia a partir do aporte teórico de autores como Antonio Gramsci. Estudo e acompanho o trabalho das investigadoras e investigadores associados a grupos como o OBSCOM/CEPOS, a ALAIC, a ULEPIC; e o POLObs, este último a partir dos trabalhos da Prof.Helena Sousa, que me orientou, e da Prof. Elsa Costa e Silva, que já coordenou o GT Políticas, Regulação e Economia dos Média da Sopcom, do qual também sou associada.
Tenho trabalhado com a Análise Crítica do Discurso, como abordagem teórico- metodológica, a partir de autores como Norman Fairclough, em diálogo transdisciplinar com autores como a Ève Chiapello. Também acompanho o trabalho do Núcleo de Estudos de Linguagem e Sociedade – NELiS. Tenho sido especialmente influenciada pela filosofia da tecnologia a partir de autores como Álvaro Vieira Pinto e Andrew Feenberg.
Quais os principais desafios que encontraste no doutoramento e/ou no percurso enquanto investigadora?
No doutoramento um dos desafios é lidar com as diferentes tarefas que estão associadas ao percurso doutoral, e que vão além do desenvolvimento da própria tese, como gerir a participação em congressos e a elaboração de publicações. No percurso como investigadora o maior desafio é lidar com a incerteza e a instabilidade laboral.
Que estratégias adotaste para responder a tais desafios?
Sobre o desafio de lidar com a incerteza e a instabilidade laboral, uma sugestão é ser flexível e olhar as oportunidades nos diversos campos do conhecimento que possuem pontos de convergência e interesses comuns com o nosso campo de investigação.
Atualmente, dedicas-te exclusivamente à investigação?
Dedico-me à uma bolsa da FCT desenvolvendo atividades de comunicação de ciência no Centro de investigação em Psicologia da Universidade do Minho (CIPsi). Trabalho desenvolvendo atividades de comunicação de ciência, o que me mantém em contato com diferentes aspectos do fazer ciência e dá-me a oportunidade de desenvolver um olhar mais amplo sobre o sistema científico e a sua divulgação.
Como é que organizas o teu dia a dia de trabalho com a vida quotidiana?
A minha dedicação ao trabalho no CIPsi é exclusiva durante os dias da semana. Assim, o trabalho de investigação acontece sobretudo no horário pós-laboral e aos fins de semana. Também colaboro com a Revista Comunicando integrando a equipa editorial. Para manter o trabalho de investigação é necessário ter em atenção as dimensões associadas à saúde mental e buscar equilíbrio com a vida pessoal.
Imaginas o teu futuro ligado à investigação ou gostavas de conhecer outras áreas e enveredar por outros caminhos?
Sim, gostaria de atuar na área da investigação mas também na docência, o que dependerá da disputa pela inclusão dos jovens investigadores nestes espaços cada vez mais restritos.
Por que motivo participas no GT de Jovens Investigadores da Sopcom e o que mais gostas neste grupo?