Catharina Vale

Nome Catharina Vale

Idade 44 anos

Instituição Faculdade de Ciências Humanas, FCH, da Universidade Católica Portuguesa

Área de investigação Comunicação Política

Como começou o teu percurso como investigadora? Algum acontecimento ou evento particular suscitou o teu interesse pela área da investigação que atualmente desenvolves?

O meu percurso como investigadora não é linear e é marcado pela ligação com meu trabalho como gestora de comunicação. Após a licenciatura em Comunicação, fiz intercâmbio para Alemanha e cursei disciplinas relacionadas com Administração. Passados dois anos, de regresso ao Brasil, meu país de origem, fiz uma formação lato senso em gestão em comunicação empresarial; e trabalhei na área privada e com política. Após dois anos, regressei à Alemanha para meu mestrado em Educação Intercultural, na Universidade Livre de Berlim. Neste período, dediquei-me a investigar os aspectos interculturais na docência do Português como língua segunda e língua estrangeira. Após a conclusão do mestrado, de regresso ao Brasil, passei a trabalhar com comunicação no âmbito da cooperação internacional, com ênfase na cooperação com a Alemanha. Após 10 anos a trabalhar com bastidores políticos e comunicação, o cenário político e social polarizado no Brasil me instigou a regressar para a academia para investigar o fenômeno da comunicação populista.

Podes apresentar-nos um pouco da tua produção científica enquanto investigadora?

Após o meu mestrado, publiquei artigo na revista da UFSCAR intitulado “Melhoria da Abordagem Intercultural em Classes de Português como Língua Estrangeira”. No âmbito da trajetória doutoral, além de apresentação em congressos de comunicação, como em Portugal, na Sopcom, e na Finlândia, no Emotions, Populism and Polarisation (HEPPsinki) – um evento inteiro dedicado à temática de populismo e polarização, relacionado com emoções. Mais recentemente, foi publicado o paper “How Instagram hashtags can be strategically used in politics – an analysis of #muheresnapolitica in Brazil”, publicado na Revista Comunicação Pública, Vol. 7, Nº 33, de 2022. Há outro artigo em avaliação para publicação, sobre líderes populistas brasileiros.

Tens sido especialmente influenciada por algum/a autor/a e/ou tradição teórica?

No âmbito da Comunicação, a principal influência advém da Escola de Frankfurt. Os textos mais atuais do Christian Fuchs trazem reflexões para repensar as ciências da comunicação como fundamentais para repensar o capitalismo atual. É uma lembrança de que precisamos estudar os fenômenos da comunicação sempre em perspectiva com o contexto sociopolítico no qual está inserida. Destaco também Gianpietro Mazzoleni, por toda contribuição que dá ao estudo da comunicação populista, e, nomeadamente, para o entendimento acerca do populismo atual e do uso crescente nas redes sociais. Ao considerar a complexa temática populista, destaco Cas Mudde, que se tem dedicado a analisar o populismo de direita e extrema-direita ao redor do mundo. No Brasil, as pesquisadoras Letícia Cesarino e Rosângela Pinheiro-Machado têm dado contribuições conceituais contemporâneas para compreender o fenômeno do populismo atual vivido no país.

Qual foi o ponto de partida para o projeto de doutoramento que desenvolves? Fala-nos um pouco sobre ele.

Por conta do meu trabalho como comunicadora em bastidores políticos sempre precisei compreender bem a relação do Brasil com outros países, em especial, com a Alemanha. Após a eleição de 2018 percebi que havia nuances no contexto social e político que ainda não compreendemos bem, principalmente ao observar a crescente polarização e a participação das mídias sociais na esfera política, mesmo fora do período eleitoral.

Quais os principais desafios que encontraste no doutoramento e/ou no percurso enquanto investigadora?

O principal é a falta de rede de debate e a gestão do trabalho, com a vida de migrante, familiar, no meio de uma pandemia.

Que estratégias adotaste para responder a tais desafios?

Aceitar que a pesquisa não é uma trajetória linear e reconhecer as pequenas vitórias. Por vezes temos a sensação de não estar a avançar com nada e, de repente, recebemos a aprovação de um artigo ou a aceitação de uma fala em um congresso. Cada passo é um marco importante e sólido para o amadurecimento da pesquisa. Olhar para essas pequenas conquistas me auxilia a seguir. Buscar redes é outra estratégia fundamental: a rede da Sopcom, contactos em congressos, trocas com quem investiga temas semelhantes. Participo de um grupo de escrita acadêmica que tem sido muito importante na minha jornada investigativa, em especial quando estou a afastar-me da pesquisa, ajuda-me a regressar. Estratégias de leitura também, sempre procuro ler textos não acadêmicos, combinados às leituras acadêmicas, esse equilíbrio me faz bem.

Por fim, para quem, assim como eu, migrou para realizar sua investigação, a estratégia é resiliência. Cansa, mas é preciso aceitar que é necessário tempo para compreender a navegar em uma nova cultura. A burocracia é uma constante na vida de quem migra, como já migrei outras vezes para outras cidades e países, minha estratégia é trocar informações com outras pessoas migrantes e com pessoas locais. Encontrar rede e troca com pessoas locais me ajudam a superar o desafio como migrante, pois ajuda a mim e a minha família e se sentir mais acolhida.

Durante a frequência do doutoramento, algum aspecto te surpreendeu positivamente? E negativamente? 

Positivamente, destaco a relação com minha orientadora. Julgo ser fundamental ter uma boa relação com a orientação. Outro aspecto positivo são as participações em eventos acadêmicos, destaco principalmente dois que tiveram um grande impacto na minha pesquisa: o HEPP3, sobre populismo, na Finlândia, que ampliou minha percepção sobre o tema e me fez reorganizar minha pesquisa para olhar para aspectos da emoção, que não estavam previamente previstos, além de ter conhecido ali outras investigadoras com as quais mantenho contato; e o seminário Média, Populismo e Corrupção, realizado em Lisboa, além de ter conhecido o Professor Mazzoleni pessoalmente, conheci outras investigadoras com quem uni esforços para produção de artigos acadêmicos.

Negativamente destaco a solidão da trajetória acadêmica. Por mais que estejamos entre pessoas amigas e familiares, as leituras e o processo intelectual são muito solitários, e durante a pandemia foi ainda mais desafiador.

Atualmente, dedicas-te exclusivamente à investigação?

Desde que me desliguei da instituição para a qual trabalhava no Brasil, sigo trabalhando como consultora com comunicação estratégica intergovernamental, com temas complexos como mudanças climáticas, transição energética, gênero e conservação florestal.

Como é que organizas o teu dia a dia de trabalho com a vida quotidiana?

Tento dedicar horários específicos para produção acadêmica e o trabalho, sendo que o trabalho ocupa maior parte do tempo na minha rotina. Tento dedicar momentos e temporadas à investigação, o que me permitiu alcançar avanços mais sólidos. E, claro, reavaliar o andamento do meu cronograma, ajustar, reorganizar. Como mencionei, não é um processo linear. Para este ano já tracei metas de eventos e publicações, além dos avanços de pesquisa que desejo alcançar. O cronograma é então reavaliado a cada três meses.

Imaginas o teu futuro ligado à investigação ou gostavas de conhecer outras áreas e enveredar por outros caminhos?

Imagino um futuro um pouco mais presente em sala de aula. Muito do que venho pesquisando e o que aprendi ao longo da jornada doutoral eu procuro levar para o meu trabalho. Espero poder levar um pouco mais do meu conhecimento prático para outros investigadores.

Por que motivo participas no GT de Jovens Investigadores da Sopcom e o que mais gostas neste grupo?

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