
Nome Vera Marina Pires Antunes
Idade 43 anos
Instituição Universidade da Beira Interior, LabCom
Área de investigação Comunicação Estratégica e Termalismo
Como começou o teu percurso como investigadora?
O meu percurso começou em 2012, com um estímulo, através da candidatura a uma bolsa de investigação na UBI, que tinha como critério estar matriculada no doutoramento. Não consegui a bolsa, porém, já tinha como objetivo pessoal fazer o doutoramento em ciências da comunicação para dar seguimento ao meu mestrado e decidi seguir em frente. No percurso da investigação tive dois filhos, uma gravidez de risco, o que me obrigou a suspender temporariamente a investigação. Retomei em 2021, com uma bolsa FCT e entrego este ano.
Algum acontecimento ou evento particular suscitou o teu interesse pela área da investigação que atualmente desenvolves?
Sou funcionária da Universidade da Beira Interior e em 2007, por questões profissionais tive contacto com o setor do termalismo, “foi amor à primeira vista”, incrível o poder da água mineral natural, uma verdadeira bênção da natureza. Constatei desde logo que o termalismo tinha séculos de existência e era tão mal comunicado, motivo porque fiz mestrado em marketing, cujo tema da dissertação foi o Marketing Empreendedor no Setor de Turismo de Saúde e Bem-estar, onde conquistei o prémio escolar por ter concluído o 2.º ciclo de estudos com a melhor classificação final. Na conclusão foi identificado um gap na área da comunicação, sendo a minha área de formação, nem hesitei em dar o meu contributo científico para colmatar esta lacuna.
Podes apresentar-nos um pouco da tua produção científica enquanto investigadora?
Em meados de 2009, 2010 publiquei e apresentei os resultados do mestrado em algumas conferências internacionais, porém, o excesso de trabalho não me permitia ter tempo para dedicar à investigação. Quando consegui a bolsa FCT defini objetivos e metas científicas e em janeiro de 2021 comecei a trabalhar para os atingir. Já tenho alguns artigos publicados em revistas científicas internacionais indexadas, com destaque para: (Re)thinking Thermalism in Europe From the Strategic Communication Perspective: a Theoretical Reflection , a Theoretical Reflection on Thermalism and Communication: Future Perspectives in Times of Crisis e A Theoretical Reflection on the Importance of Branding to Promote Thermal Destinations. Um capítulo de livro, Perspectives for Communication in Social Media: the Case of Thermal Spas, no Routledge Handbook of Global Trends and Issues in Tourism, editado pelo Alastair M. Morrison and Dimitrios Buhalis e tenho outro artigo pronto para submeter. Tenho participado em várias conferências nacionais e internacionais e conquistei o prémio de best poster com o título: The Influence of Strategic Communication in the Projection of Portugal as a Thermal Tourism Destination, na 5th International Conference on Tourism Research 2022 (ICTR22). O caminho faz-se caminhando e agora estou focada em escrever e entregar a tese para poder difundir este conhecimento pelo mundo. Costumo dizer que para “Ser os olhos do Termalismo no Mundo” é preciso difundir o conhecimento científico que neste caso assume um propósito: dar a conhecer o termalismo e construir um conhecimento sólido sobre comunicação aplicada ao termalismo.
Tens sido especialmente influenciada por algum/a autor/a e/ou tradição teórica?
Esta tese destaca a necessidade de mais investigação sobre termalismo, com especial enfoque na comunicação e reúne uma pluralidade de teorias, com diferentes características e objetivos, mas que cumprem um propósito coletivo: mudar crenças, hábitos e comunicar os benefícios do termalismo, a fim de construir um conhecimento sólido sobre o termalismo para aumentar a sua notoriedade. Esta diversidade de áreas científicas possibilita diferentes influências e tenho autores portugueses e internacionais de referência que leio com grande entusiasmo, como é o caso de: Thaler e Sunstein no âmbito da teoria de Nudge, Filipa Brandão, Dália Liberato, Pedro Liberato, Carlos Costa, Adília Ramos, Joaquim Antunes, Frederico Teixeira, Pedro Cantista, Elisa Alen, Szromek, Melanie Smith, László Puczkó, Pinos Navarrete na área do termalismo, Evandro Oliveira, Gisela Gonçalves, Teresa Ruão, Frandsen, Johansen, Hallahan, Jesper Falkheimer, Melanie James, John Ledingham e Stephen Bruning da área da comunicação estratégica.
Qual foi o ponto de partida para o projeto de doutoramento que desenvolves? Fala-nos um pouco sobre ele.
O ponto de partida, como já referi, foram as conclusões do mestrado, onde se identificou, claramente, uma lacuna na área da comunicação, estamos a falar de 2009. Em 2021, obviamente que evoluímos, porém, continua a ser tema de conversa e discussão a comunicação e o marketing no termalismo. Através de uma análise aprofundada às publicações científicas, constatei que quando atravessamos fronteiras é muito importante clarificar os conceitos à volta do termalismo para evitar confusões com SPA, Turismo médico, bem-estar, e afins…. O que diferencia o termalismo é a água mineral natural. É fundamental valorizar e credibilizar o termalismo, nas suas dimensões terapêutica, bem-estar, lúdica e turística, sendo a comunicação essencial à estratégia. O tema da investigação é a importância da comunicação estratégica na notoriedade do termalismo em Portugal e procuramos identificar os problemas do termalismo, desmistificar os benefícios do termalismo, perceber o papel atual da comunicação nas termas…. e afinal como podemos contribuir para as duas áreas da ciência de forma diferenciadora? Através da proposta de um modelo de comunicação para o termalismo em Portugal, reforço que não é para as termas A, B ou C, mas sim para o termalismo, porque o foco tem de estar no que se pretende comunicar, independentemente se a concessão é pública, privada, mista, pequena ou grande organização. Espera-se que esta estratégia consertada alavanque todas as termas em Portugal, neste processo de transformação e de mudança de paradigma do que é o termalismo e através da criação de estímulos, aumentar a notoriedade do termalismo em Portugal. É preciso desmistificar o que é o termalismo para levar mais pessoas às termas.
Quais os principais desafios que encontraste no doutoramento e/ou no percurso enquanto investigadora?
A investigação, como já foi referido, aborda a atual escassez de trabalho académico sobre a importância da comunicação aplicada ao termalismo e a falta de modelos estratégicos relevantes para a comunicação do termalismo, seja de um destino termal, seja do setor, seja da marca, logo, obriga a leituras aprofundadas e a co-criar novas abordagens para o termalismo por esforço dos autores. É desafiante porque estamos a semear novas investigações, a reinventar, porém, corremos o risco de levantarem questões, dúvidas o que obriga a uma grande capacidade de argumentação para clarificar a visão. Por exemplo no LabCom já se falou de muitas áreas, mas nunca de termalismo. Outro desafio, mais pessoal, foi a maternidade, o facto dos meus filhos ainda serem pequenos, coloca-me numa posição de, por um lado, gostar de voar mais alto, de ir à descoberta, por outro, o querer estar perto deles, porque ainda sentem muito a minha falta. A saúde também tem sido um fator relevante neste percurso, desde uma intervenção cirúrgica à coluna, ao problema oncológico do meu pai, tudo isto associado à pandemia da Covid-19, obriga a ter de estar em paz e calma para conseguir superar todos os desafios e seguir em frente.
Que estratégias adotaste para responder a tais desafios?
Eu sou uma pessoa muito extrovertida, obviamente, que também tenho dias… No meu dia a dia procuro uma terapia alquímica, uma espécie de energia mágica conduzida pelo coração e baseado em valores humanos fundamentais que manifestam abundância e crescimento pessoal, muito através da aceitação e da gratidão. Na parte mais operacional, eu sou muito criativa e distraio-me várias vezes, o factor tempo aliado à organização é um desafio constante… Preciso muitas vezes de me reorganizar, sem culpa, mas por vezes gera alguma ansiedade principalmente quando os prazos apertam.
Durante a frequência do doutoramento, algum aspeto te surpreendeu positivamente?
O mais positivo foi a minha “thermal trip”, a abertura das portas das termas, as longas conversas sobre termalismo com os representantes das termas. Sou muito grata por ter tido a oportunidade de conhecer a realidade dos Açores – aquele património termal maravilhoso. As entrevistas com os secretários do Turismo dos Açores e de Portugal Continental, e com os representantes da Direção Geral de Saúde da Direção Geral de Energia e Geologia que me permitiram obter informação de fontes primárias muito importantes para o setor. Destaco também o apoio da Associação das Termas de Portugal que tem grande parte dos associados, que foi fundamental na cedência de contactos e outras informações relevantes para o estudo. No relacionamento interpessoal destaco também a amizade entre colegas da área da comunicação, apoio fundamental para seguirmos em frente e a relação com as minhas orientadoras.
E negativamente?
Não considero negativos, mas limitações, com o evoluir da investigação, apercebi-me que não se pode projetar algo que ainda não está consolidado internamente, o que me obrigou a um percurso com algumas curvas de investigação, alguns ajustes…
Quanto à agenda das entrevistas, nem todas as termas responderam, houve necessidade de alguns contactos pessoais, para alcançar os objetivos, porém consegui representatividade para sustentar o estudo na parte qualitativa. Neste momento tenho em curso o questionário a todas as pessoas para identificar a perceção que as pessoas têm do termalismo e não está a ser fácil conseguir as respostas idealizadas, porque devido ao Regulamento Geral da Proteção de Dados as termas não podem difundir o questionário via email, mas com estratégias e persistência vou conseguir.
Atualmente, dedicas-te exclusivamente à investigação?
Sim, caso contrário seria impossível concluir esta investigação, estive um ano em trabalho de campo a recolher entrevistas pelas termas de Portugal, cheguei a fazer mais 1500 km por semana. Foi um trabalho cansativo, mas que me deu um prazer enorme, conhecer o paraíso termal, falar com pessoas visionárias que estão no “leme” das termas, conversar com as pessoas que sentem o beneficio do termalismo no corpo, recordo a conversa com as senhoras que foram do Norte para o Alentejo para fazer uma “bolha” e a outra o “Viche”, vivi muitos momentos de alegria. Alio ainda a experiência com água, e efetivamente cada água é única, uma experiência indescritível. Sou muito grata à UBI pela oportunidade de fazer o doutoramento com a bolsa FCT, com a expectativa de que quando regressar estarei mais qualificada e dotada de novos conhecimentos e experiência capaz de co-criar valor para a nossa universidade.
Como é que organizas o teu dia a dia de trabalho com a vida quotidiana?
Com dois filhos menores, não consigo desligar-me das rotinas diárias (levar à escola, atividades extracurriculares e afins), porém, conto com o apoio do meu marido e dos meus pais que é um grande suporte. Nesta fase de escrever a tese é uma rotina muito caseira, de vez em quando faço uma caminhada, mas, estou maioritariamente por casa, ou no escritório ou no terraço quando está bom tempo. Se o trabalho é de leitura ou escrita vou passar o dia à biblioteca do Fundão, outras vezes vou para a UBI e aproveito para beber um café ou almoçar com outros colegas da área para espairecer. Ao fim de semana dedico-me muito à família e ao lazer.
Imaginas o teu futuro ligado à investigação ou gostavas de conhecer outras áreas e enveredar por outros caminhos?
Eu sou uma eterna UBIana, quando ingressei na UBI em 2000, na licenciatura em Ciências da Comunicação, não fazia ideia de como seria o meu futuro, sempre gostei de viver a vida com alegria. Foi na UBI que cresci em conhecimento científico, em sabedoria, em competências profissionais, e sou muito grata, porque a pessoa que sou hoje é um reflexo das pessoas com quem trabalho na UBI e da cultura organizacional incutida da nossa universidade. Sou uma pessoa humilde, disponível e cooperante e gostava de manter um futuro ligado à investigação. Confesso, não penso muito nisso, imagino um futuro de muita partilha, alegria e abundância de conhecimento.
Por que motivo participas no GT de Jovens Investigadores da Sopcom e o que mais gostas neste grupo?
Sou uma jovem quarentona e partilhar sabedoria e conhecimento é um dos meus propósitos de vida. Reconheço esse espírito neste grupo heterogéneo de jovens investigadores, quer na diversidade de idades, quer nas áreas de investigação, o que só pode resultar em excelentes iniciativas e projetos para a área da comunicação.